Handebol, o avesso do futebol – Crônica de Carlos Eduardo Novaes

Ao que tudo indica, o professor alemão Karl Schelenz pretendeu desbancar o futebol – já em plena ascensão pelo mundo – ao organizar e publicar as regras do handebol em 1919. Ou não teria aperfeiçoado um jogo disputado por times com 11 jogadores em um campo gramado, de dimensões semelhantes as do velho esporte bretão. Foi assim que o handebol pediu passagem e entrou para os Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim, aquele em que Hitler abandonou o estádio para não cumprimentar o negro norte-americano Jesse Owens que conquistou quatro medalhas de ouro e demoliu o mito da supremacia ariana.

As Olimpíadas foram suspensas por 12 anos em razão da Segunda Guerra Mundial (1939/1945). Ao recomeçarem, em 1948, o handebol não fazia mais parte do seu programa. Voltou apenas em 1972 e voltou praticado em quadra coberta, com times de sete jogadores e regras modificadas. O que terá acontecido nesses anos para provocar mudanças tão radicais? Uma “briga de foice” entre os adeptos do handebol de campo e o de quadra adaptado extra-oficialmente pelos países do Norte da Europa. Os nórdicos argumentavam que um campo menor tornava as partidas mais emocionantes e ao abrigo do frio e da neve poderia ser disputado o ano inteiro.

O esporte prosseguiu dividido, sendo praticado nas duas modalidades, até que, em 1946, no congresso da Federação Internacional de Handebol em Copenhague, a delegação sueca virou a mesa e conseguiu oficializar o handebol “indoor”. O handebol de campo ainda resistiu por alguns anos, mas perdendo público e prestígio encerrou sua “carreira” em 1966, quando foi disputado o ultimo Mundial a céu aberto.

Pelo prazer (e a facilidade) de segurar uma bola com as mãos, suspeita-se que o handebol tenha sido um dos primeiros esportes coletivos praticados pela civilização (variando de forma ao longo dos tempos). Em Atenas, há um fragmento de pedra de 600 a.C. com um trecho da Odisséia onde Homero, poeta grego, descreve um jogo, chamado urânia, em que a bola do tamanho de uma maçã era arremessada com as mãos com o objetivo de, através de passes, ultrapassar os adversários.

Foram os alemães, no entanto, que impulsionaram o esporte mundo afora. Diz-se que durante a Primeira Guerra Mundial (1914/1918) um professor de ginástica, Max Heiser, organizou um jogo de bola com as mãos, ao ar livre, para recreação das operárias da fábrica Siemens em Berlim. Deu-lhe o nome de torball, que Schelenz quatro anos depois rebatizou de handball.

No Brasil, o esporte desembarcou depois da Primeira Guerra trazido por imigrantes (preciso dizer a nacionalidade deles?). Em 1940 foi criada a Federação Paulista de Handebol, que teve como seu primeiro presidente José da Silva? João das Neves? Osvaldo de Oliveira? Nada disso: Otto Schemelling! Só em 1954, porém, entramos na nova onda, reduzindo o número de jogadores e trocando os campos pelas quadras.

O Brasil nunca conquistou títulos ou medalhas de expressão no handebol de salão, mas, depois que o esporte chegou à areia (beach handebol) – seguindo o exemplo do futebol e do vôlei – já emplacamos um terceiro lugar no mundial feminino de 2010 e um bicampeonato mundial – 2006 e 2010 – no masculino. Nem os povos do deserto tem tanta intimidade com esportes na areia!

Em tempo: para surpresa geral, no inicio o handebol era praticado apenas por mulheres!

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