Levando uma dura esquisita – conto de Carlos Vitor de Castro

Meio da década de 80, eu tinha começado a fumar maconha e como não havia outra maneira, ia no morro comprar o bagulho, o mais próximo da minha casa era a favela da rua Espírito Santo (pecado), uma pequena escadaria nos separava do objeto de nosso vício.

O traficante era o Ari, que era o mais velho em atividade, ele tinha 42 anos e todos que tinham 17 anos como eu o achavam muito, muito velho. Era um excelente contador de estórias e tinha também a singularidade de trabalhar sozinho e desarmado. Outros tempos.

Fui a tarde no morro e levei dois dinheiros (não lembro da moeda da época) para comprar uma petequinha, chegando lá não encontrei o Ari em buraco nenhum e voltei para casa frustrado.

Cruzando a esquina um carro branco parou ao meu lado e o motorista mandou eu encostar na parede e saiu do carro armado, era um policial filho-da-puta qualquer assaltando na rua.

O cara veio na minha direção dizendo que tinha me visto descer do morro e para me revistar ele, fora de qualquer padrão, encostou seu peito no meu me prensando na parede enquanto futucava meus bolsos. A posição era constrangedora. O ladrão/policial até que era bonitinho e nós dois agarrados numa esquina as quatro da tarde parecíamos dois pombinhos apaixonados se esfregando na rua. Achei que aquilo não ia acabar nunca.

De esquisito passou a surreal:

ladrão policial: abre as calças
eu: tá bem
ladrão policial: levanta o saco
eu: tá bem
ladrão policial: arregaça o pau
eu: por que?
ladrão policial: arrregaça porra
eu: tá bem

Ele deu uma olhada na minha glande e finalmente me soltou daquele abraço constrangedor. Fico imaginando se ele já viu alguem esconder alguma coisa sob o prepúcio. E eu que era o doidão.

Durante nosso abraço constrangedor eu repeti várias vezes que não havia nada comigo porque não havia nada no morro e mostrava para ele os dois dinheiros, mas ele só ficou satisfeito quando revistou até o meu prepúcio.

Ele voltou para o carro me xingando, rosnando como um cachorro, devia ser viciado em pó e estava precisando encontrar algum logo, ao abrir a porta olhou de volta para mim e mandou que eu entregasse os dois dinheiros. Entreguei é claro.

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