No túmulo de um inglês – poema de Euclides da Cunha

És bem feliz, mylord!… na tua tumba fria
Um sono gozas, bom — no seio da soedade
Feliz!… não tens o Sol de tu’Albion sombria
Mas tens o olhar de Deus — O Sol da eternidade!…

És bem feliz mylord a triste ventania
Soluça nos ciprestes os cantos da saudade…
Quem sabe se te traz — em vozes de agonia—
Os risos e as canções de tua mocidade!…

Estás livre do splen… invejo-te deveras…
Do túmulo a sombra espanca as pálidas quimeras.
— Em teu berço de pedra embala-te a soidão…

És bem feliz mylord — assim antes eu fora!…
Tu tens a calma eterna, a solidão sonora
E tu não tens — feliz — não tens — teu coração…

Rio — 2 de Novembro 1883.

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