Coceira nas costas – Crônica de Luis Fernando Veríssimo

A CCC, coceira crônica nas costas, longe do alcance das nossas unhas, é um martírio constante. Quem sofre de CCC vive pedindo que alguém lhe coce as costas e, na falta de alguém, recorrendo a qualquer meio para acabar com o tormento. É conhecido o caso trágico daquele agente do governo dos Estados Unidos encarregado de negociar com os índios peles-vermelhas no oeste americano e que depois do acordo concluído, quando o cachimbo da paz com sua haste longa lhe foi passado, não aguentou e usou o cachimbo para coçar as costas. Dos seus restos comidos por lobos só sobrou o escalpo.

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A CCC provoca situações embaraçosas. É comum ver-se pessoas esfregando as costas numa quina de parede ou, em casos extremos, rolando pelo chão para aliviar a coceira. O que, obviamente, prejudica sua vida social.

– Cheguem para trás. É um ataque epilético!

– Não, não. É coceira nas costas

A CCC também causa mal-entendidos. Como no caso daquele casal cujas vozes eram ouvidas em todo o prédio.

– Aí, aí. Um pouco mais para o lado.

– Assim?

– Mais rápido.

– Está bom assim?

– Está. Está!

– Mais rápido?

– Não, assim está bom. Só um pouco mais para…

– Assim?

– Isso! Ai meu Deus. Sim! Sim!

O casal ficou com fama de ter uma vida sexual movimentadíssima, quando se tratava apenas de CCC.

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Pelo menos você sabe que presentes dar para alguém que tem CCC: qualquer objeto que lhe permita coçar as própria costas. Uma colher de madeira comprida, um telescópio portátil, um pedaço de antena… Até um cachimbo da paz.

Catálogo. (Da série Poesia Numa Hora Dessas?!)

Deus, vaidoso como qualquer artista

Pensa em publicar um catálogo da sua obra

De Gênesis até anteontem.

Só ainda não sabe o que botar na capa:

As Cataratas do Iguaçu, uma noite de luar

Ou a Patrícia Pillar.

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