O desgosto do Medêro – Poema de Patativa do Assaré

Ô Joana este mundo tem
Sugeito com tanta faia
Que quanto mais qué sê bom
Mais no êrro se escangaia,
Istuda mais não prospera
E pra sê burro de vera
Só farta levá cangaia

Ô Joana, tu já deu fé,
Tu já prestou atenção,
Que tanta gente que tinha
Com nós boa relação
Anda agora deferente
Sem querê sabê da gente
Pru causa das inleição?

Óia Joana, o Benedito
Que era camarada meu
Anda agora todo duro
Sem querê falá com eu
Na maió intipatia
Pruquê vota em Malaquia
E eu vou votá no Romeu.

Se ele vota em Malaquia
E eu no Romeu vou votá
Cada quá tem seu partido
Isto é munto naturá.
Disarmonia não traz
E este motivo não faz
Nossa relação cortá.

O Zé Lolo que me vendo
Brincava e dizia trova
Anda todo infarruscado
Com certa manêra nova
Sem morá e ingnorante,
Com a cara do istudante
Que não passou pela prova.

Ô meu Deus, nunca pensei
De vê o que agora tô vendo,
Joana, basta que eu lhe diga
Que até mesmo o Zé Rozendo
Anda falando grossêro
Não fala mais no dinhêro
Que ele ficou me devendo.

Pra que tanta deferença,
Pra que tanta cara estranha?
O mundo intêro conhece
Que quando chega a campanha
Tudo alegre pega fôgo,
Inleição é como o jôgo
Quem tem mais ponto é quem ganha.

Ô meu Deus como é que eu vivo
Sem tê comunicação?
Ô Joana, só dá vontade
De sumi num sucavão
Pra ninguém me aborrecê
E somente aparecê
Quando passá as inleição

— Medêro, não seja tolo
Pruquê você se aperreia?
Tudo isto é gente inconstante
Que sempre fez ação feia,
É gente que continua
Na mesma fase da lua,
Crescente, minguante e cheia.

— Medêro, não entristeça
Você não vai ficá só
O que fez o Benidito
Zé Rozendo e Zé Loló
Eu sei que foi munto ruim
Porém se os home é assim
As muié são mais pió.

— Medêro, tanta muié
Que dizia a todo istante:
Como é que tu vai Joaninha?
Todo fôfa e elegante,
Pruquê voto no Romeu
Agora passa pru eu
Com a tromba de elefante.

Eu onte vi a Francisca
A Ginuveva e a Sofia
Dizendo até palavrão
Com Filismina e Maria,
No maió ispaiafato
Pro causa dos candidato
O Romeu e o Malaquia

Tu não vê a Zefa Peba,
Que é até colegiá?
Nunca mais andou aqui
E agora vou lhe contá
O que ela já fez comigo
Que até merece castigo
Mas eu vou lhe perdoar

A Zefa Peba chegou
Reparou e não vendo eu
Subiu na nossa carçada
Se ístícou, gunzou, se ergueu
Com os óio de cabra morta
E tirou da nossa porta
O retrato do Romeu.

Eu tava escondida vendo
E achei aquilo bem chato
Será que ela tá pensando
Que rasgando este retrato
O Romeu fica pequeno
E tem um voto a meno
Para o nosso candidato?

Eu vi tudo que ela fez
Porém não quis arengá,
Mas no momento que vi
A Peba se retirá ,
Provando que eu sou muié
Agarrei outro papé
Preguei no mesmo lugá

Por isso você Medêro
Não se importe com pagode
Se lembre deste ditado
E com nada se incomode,
Tudo é farta de respeito,
“Quem é bom já nasce feito
Quem qué se fazê não pode”

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