Tudo que o mestre fizer – Cronica de Carlos Eduardo Novaes

O Capitão passou a utilizar o twitter forçado pelas circunstancias. Depois de recuperado da cirurgia poderia ter deixado o aplicativo de lado mas ao perceber que era a plataforma preferida de Trump para governar seu país, mais do que depressa resolveu manter a “trincheira”. A partir daí foi seguindo religiosamente as decisões do presidente americano na esperança de que – copiando o modelo – algum dia nos tornemos o Estados Unidos do Brasil.

Sentado em seu gabinete, preparando mais um post, Bolsonaro chamou seu porta-voz, o deputado Hélio Negão, parado em pé atrás do chefe.

– Ligou para a Casa Branca hoje?

O porta-voz balançou a cabeça negativamente.

– Já não disse que quero você ligando para Washington todos os dias?

O porta voz tornou a balançar a cabeça negativamente.

– Então liga. Preciso saber se o presidente americano tomou alguma nova decisão…

O porta-voz ligou, não disse uma palavra e entregou o fone para Bolsonaro.

– Você não sabe que não falo inglês? – reagiu o Capitão

O porta-voz apontou para o próprio peito e fez o sinal negativo com o indicador (“eu também não”).

Irritado, o Capitão entregou o fone para sua assessora de Libras.

– Pergunta lá o quê o presidente Trump decidiu sobre o Pacto de Migração proposto pela ONU.

A assessora pediu a Bolsonaro que segurasse o fone.

– Desculpe ocupa-lo presidente, mas vou precisar usar as duas mãos…

Quando começou a gesticular diante do fone Bolsonaro se deu conta de que sem imagem a comunicação ficaria um tanto complicada e gritou para o porta-voz:

– Chama o chanceler Ernesto que ele fala até tupi…

O porta-voz fez o sinal de positivo e foi atrás do ministro. Ernesto surgiu esbaforido e perguntou ao Capitão se ele estava fazendo contato com alguma aldeia indígena.

– Quero falar com a Casa Branca! – berrou o Capitão sem paciência

– Em tupi? – espantou-se o Chanceler

– Em inglês, porra!

– Ah bom. Desculpe presidente. Como seu porta-voz não fala, não entendi direito.

Ernesto tornou a ligar e perguntou sobre o tal Pacto que o Brasil já havia ratificado.

– O assessor do presidente Trump informou – disse o chanceler – que os Estados Unidos foram contra o Pacto.

– Então nós também seremos! – Bolsonaro foi firme

– Mas nós aderimos ao pacto em dezembro, presidente…

– Não importa! Se os Estados Unidos são contra nós também somos. Vamos cair fora.

– Quer saber mais alguma coisa, presidente? – indagou Ernesto tapando o bocal do fone

– Pergunta sobre a questão do muro com o México. Já começaram a construir?

– Ainda não – afirmou o chanceler depois de perguntar

– Então peça a ele que nos avise quando começar. Temos que construir um muro também…Que tal na fronteira com a Venezuela?

O Capitão virou-se para o porta-voz e perguntou o que ele achava da ideia.

– Excelente – respondeu o porta-voz

– Falooooou!!

Via site oficial do Carlos Eduardo Novaes

1.067 Visualizações