Tirar a sorte grande é o meu sonho, dizia-me alguém.
Por quê? Não sabes, porventura, trabalhar?
Há trabalhar e trabalhar. Meus pais eram muito pobres; mas, apesar de sua pobreza, educaram-me como um príncipe. Nunca fiz o menor esforço muscular, nunca soube o preço do feijão e da carne-seca. Hoje ainda não o sei; mas vou vivendo, em todo o caso. Contudo, esta vida não me serve.
Conforme fui educado, necessito de certo ambiente e de certa liberdade de viver. Não pude, por isso, formar-me. Olha: basta esse verbo, para dizer o que é meter-se numa “Academia”, como se diz entre nós, decorar uma porção de porcarias e perder a personalidade. Não me quis meter em fôrma.
Disparei. Levei uma vida de misérias, embriagado no sonho. Não desanimei porém. A vida deve ser vivida, de acordo com nosso temperamento e os nossos ideais. Assim eu fiz a minha e não me arrependo. Vou vivendo e nisso consiste a máxima sabedoria, embora tenha mulher, quatro filhos e várias cunhadas casadeiras e uns tantos cunhados vagabundos que falam mal de mim.
Mas, Edmundo, o que tu esperas?
Sabes bem da resposta de Alexandre quando distribuiu o Império que ele tinha conquistado?
Não.
Pois é simples. Ele, Alexandre, o distribuiu entre os seus generais. Um deles perguntou-lhe o que lhe ficava. Alexandre, o Macedônio, respondeu: A Esperança.
Então, e daí?
O que me resta? É a “Esperança” na loteria da Cruz Vermelha Brasileira, da qual já adquiri um bilhete inteiro.