Foi no trem. Um garotinho olhou para o Austrepézio, que segurava o ferro, e comentou com a mãe, em voz alta:
– lh, mãe! Espia só como aquele camarada ali é feio pra canudo! Parece até o bicho-papão!
Levou o maior cascudo da santa senhora:
– Isso é coisa que se diga em voz alta, seu condenado? Ai, tomara que o cara não tenha ouvido!
Mas o Austrepézio tinha ouvido e desceu o barraco:
– Não dá educação a esse pivete, dona?
Um careca se meteu no rolo e foi ao Austrepézio:
– Que o senhor me perdoe, mas o garotinho tem razão! Caramba, por acaso o senhor nasceu na Transilvânia?
Austrepézio, tiririca da vida:
– Nem sei onde fica essa rua! Sou daqui mesmo, de Coelho da Rocha!
Um negão, impressionado, aconselhou o careca: – Que a sua pessoa pare de sacanear a pessoa do sujeito ai, antes que ele vire lobisomem e desande a morder todo mundo aqui dentro do trem!
Uma velhinha quase tem um troço: – Lobisomem? Daqueles que latem, uivam e outros bichos! E eu achando que ele era sacristão!
Austrepézio se sacudiu todo:
– Nem lobisomem, nem sacristão, minha senhora! Sou um homem normal como outro qualquer!
Um baixinho não perdeu tempo: – É ruim, heim! E sem essa de dizer que é igual a gente!
O menininho voltou a atacar, para desespero da mãe:
– Mãe, e se ele sacar um revolvão e assaltar todo mundo aqui dentro? Tem a maior cara de bandido!
A mãe do garoto entrou em pânico:
– Pára de falar besteira! Agora mesmo é que ele vai fazer isso e eu tô com o dinheiro das compras do mês aqui na bolsa!
Austrepézio se queimou com aquilo:
– Chega! E vou acabar com essa palhaçada agora mesmo! Falou e saiu distribuindo tapa em todas as direções, mas levou mais do que deu e foi parar no Carlos Chagas. Lá, os médicos ficaram apavorados:
– Vai atender você! Sei lá se ele morde!
Foi o maior jogo de empurra.