“Campanha estimula casais a conceber bebês que poderão nascer em 1º de janeiro.” Mundo, 21 mar. 1999
O dia crítico era o 8 de abril. O dia não; a noite. De dia ele estaria trabalhando – felizmente ainda tinha emprego. Mas à noite iria correndo para casa. Laurinha estaria à sua espera, usando seu melhor vestido. Jantariam, tomariam champanhe (barato; auxiliar de escritório, ele ganhava pouco) e depois iriam para a cama, encomendar o primeiro bebê do casal. Que, a natureza cumprindo sua obrigação, deveria nascer a 1º de janeiro do ano 2000. Um bebê do milênio. O portador de seus sonhos.
Às seis em ponto saiu do escritório, apesar dos apelos do patrão para que ficasse mais um pouco, e correu para o ponto do ônibus. O trânsito estava congestionado, como sempre, mas mesmo assim ele conseguiu chegar à casa, num subúrbio longínquo, antes das 21 horas. E lá estava Laurinha a esperá-lo. Linda e radiante.
Conduziu-o à mesa, onde o jantar estava servido. Conforme combinado, tomaram champanhe. Conforme combinado, dançaram um pouco, ao som do rádio. E, conforme combinado, foram para a cama.
Mas aí aconteceu algo que não havia sido combinado, algo imprevisto. Ele falhou.
Talvez por causa do champanhe, a que não estava acostumado, talvez por causa do nervosismo, o certo é que ele falhou. Falhou uma, duas, três vezes. Laurinha não conseguiu conter a irritação: “O que é que há, cara? Todas as noites você quer, logo hoje, que é importante, você não corresponde?” Ele se ofendeu, gritou com ela. E, num súbito impulso, levantou-se, vestiu-se e saiu.
Caminhou algum tempo pelas ruas desertas do bairro, ia bufando, ruminando a mágoa. E quase não viu a moça que, parada à porta de um bar, sorria para ele. Era uma moça muito bonita, tão bonita que o coração dele bateu mais forte. Num instante a contrariedade desapareceu. Saíram a caminhar, conversaram, abraçaram-se, beijaram-se.
Mas quando ela o convidou a subir para o quarto, desculpou-se: tinha um compromisso urgente. Já ia sair correndo quando se lembrou de perguntar o nome dela. Carla, respondeu a moça, com o mesmo sorriso.
Ele voltou para casa e conseguiu cumprir a missão: o bebê do milênio foi encomendado, como Laurinha queria. Mas o nome ficou por conta dele. Carla, naturalmente.