“Aluno compra trabalho escolar da Internet.”
Cotidiano, 19 abr. 1999
Desiludido com a carreira universitária e sobretudo com o baixo salário, o professor pediu demissão de seu cargo e instalou um site na Internet. Seu projeto: vender trabalhos para alunos. Uma coisa que muita gente estava fazendo e na qual ele esperava sair-se bem.
Finalmente vou tirar algum proveito do meu conhecimento, disse à esposa.
Uma expectativa que se revelou, de início, frustrada. Os pedidos que recebia eram de pequenos trabalhos. Fáceis de fazer, não rendiam, contudo, grande coisa. Quando já começava a desanimar, veio uma encomenda grande: um estudante de uma obscura faculdade do interior precisava de um trabalho de mestrado. Tinha de ser longo, tinha de ser elaborado – e deveria ser entregue com urgência: cinco dias. Mas o cliente, filho de um rico industrial, estava disposto a pagar uma substancial quantia, muito maior que o preço de tabela.
O professor imediatamente se lançou à tarefa. Logo viu, contudo, que se tratava de missão impossível. Por mais rápido que progredisse – e, por causa do nervosismo, não progredia muito rapidamente, não conseguiria dar conta do recado em tempo hábil. O que fazer? Não podia cair fora: o mercado não perdoa os vacilantes. Como resolver, então, o problema?
De repente, lembrou-se de algo.
Sua tese de mestrado. Tinha-a pronta, guardada na gaveta. Nunca chegara a apresentá-la – não valia a pena, já que não pretendia continuar ensinando. Pensara até em jogar fora aquele erudito, e, a seu ver, inútil estudo. Agora, porém, poderia aproveitá-lo. Antes que os remorsos o acometessem, colocou a tese num envelope e enviou-a ao aflito mestrando.
Na semana seguinte recebeu uma carta. Continha o polpudo cheque, tal como havia sido combinado, e uma cópia do parecer da banca sobre o trabalho: entusiastas apreciações, rasgados elogios.
O professor suspirou. Ao fim e ao cabo, tinha encontrado uma espécie de glória. E teve de concluir: são mesmo muito estranhos os caminhos da Internet.