“Colombianos fazem camisinha gigante.”
Mundo, 28 dez. 1998
– É uma pouca-vergonha – exclamou a primeira senhora, num tom tão exaltado que as outras pessoas, no elegante restaurante, chegaram a se virar, mirando-a, surpresas e irritadas.
Sem se importar, ela prosseguiu:
– É uma coisa sem nome, é o fim de toda a moralidade.
A segunda senhora, que sempre fora distraída, não sabia do que a outra estava falando.
– Mas você não leu o jornal? É essa história da tal camisinha gigante. Não ouviu falar? Mas você vive mesmo no mundo da lua, minha cara. Vou lhe mostrar.
Abriu a bolsa, sacou dali um recorte de jornal, sacudiu-o no ar.
– Está aqui, para quem quiser ver. Com todos os detalhes. Uma camisinha de mil metros de comprimento, minha cara. Não é um metro, não são dois metros. Mil metros! Um quilômetro. Dizem que é para alertar as pessoas contra a Aids, mas a mim não enganam. Isso não passa de pura e simples safadeza. Sabe qual é a cidade, querida? A cidade onde fizeram a tal camisinha? É Cali. É, aquela mesma do cartel de Cali. Para mim, quem financiou essa coisa monstruosa foram os traficantes. Gastaram US$ 13 mil. Mas, para eles, deve ter sido um dinheiro muito bem empregado. Porque isto ajuda a corromper os costumes e esse é o objetivo deles. Camisinha, droga, é tudo a mesma coisa. Você não acha?
A outra não respondeu de imediato. Porque estava pensando. Não na camisinha, mas no pênis que ela poderia conter, o gigantesco, o quilométrico pênis. O pênis que, ereto, chegaria às nuvens. O grande falo diante do qual se prostrariam, em silenciosa adoração, milhares de pessoas, algumas mais afoitas tentando escalá-lo, para chegar ao topo e de lá bradar, parafraseando Napoleão: “Do alto deste pênis, contempla-nos a eternidade”.
– Você não acha? – insistiu a primeira senhora.
– Acho – respondeu, com um quase imperceptível suspiro. Há muito tempo aprendera a renunciar a seus sonhos e a concordar sempre com os outros.